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Polícia prende dez da antiga Máfia

“Ele [Flávio Augusto] foi morto porque estava com roupas do ABC. É isso que acontece na maioria das vezes com torcedores organizados: eles não têm alvos”. As palavras são da delegada Alzira Veiga, titular da 10ª Delegacia de Polícia de Natal, responsável pela apuração dos fatos sobre a morte do jovem Flávio Augusto da Costa Leandro, de 17 anos, assassinado a tiros na noite do dia 15 de novembro de 2013. A delegada afirma está convencida de que a polícia lida com “quadrilhas travestidas de torcidas organizadas”.

 

A constatação veio 90 dias depois do crime e 45 dias após início da investigação que apontou como autores do homicídio integrantes da torcida organizada do América “Tradição, Motivação e Vibração” – TMV (antiga Máfia Vermelha, extinta após decisão judicial). “Eles [os assassinos] saíram procurando pessoas com a camisa do ABC aleatoriamente, e encontraram Flávio e os amigos”, destacou Alzira Veiga.

 

Segundo a delegada, Flávio Augusto perdeu a vida simplesmente porque estava com uma roupa ligada a seu clube de coração, o ABC, quando se deparou com os assassinos. Ontem, dez pessoas acabaram detidas após a Operação “Clássico Rei”, deflagrada, por volta das 2h. Todas são suspeitas de envolvimento direto ou indireto na morte de Flávio. Um dos presos, apontado pela delegada Alzira Veiga como sendo o presidente da TMV, é o comerciário Victor Vinícius de Moura Torres, 26, e teria sido o autor dos disparos que tiraram a vida de Flávio.

 

“Ele era nosso principal suspeito desde o início das investigações e começamos a investigar por ele, após recebermos denúncias anônimas”, relatou a delegada. O suspeito nega a acusação, de acordo com o que informou a própria delegada.

 

Após um trabalho que durou 45 dias e muitas escutas telefônicas, a polícia chegou aos outros nove. Na lista ainda há uma menor de idade e um foragido, que pode se entregar a qualquer momento, segundo a delegada. Esse homem seria mais um que estaria no carro juntamente com Victor, quando houve o crime, e seria irmão do motorista que conduzia o veículo naquela noite, apontado como Fhewchtersmuller Júnior da Rocha, 21, também integrante da TMV.

 

“Ele foi um dos principais investigados justamente porque foi inicialmente apontado como o motorista naquela noite. Ele também nega, mas durante a investigação e escutas telefônicas, ele era sim o motorista”, apontou Alzira Veiga. A adolescente seria namorada de “Muller” e também estaria acompanhando-o na noite do crime.

 

Esses cinco personagens seriam os principais suspeitos de envolvimento no assassinato. Victor estava de posse de um revólver calibre 38, apreendido pela polícia. Foram expedidos dois mandados de prisão temporária contra ele e “Muller”.

 

Os outros presos foram identificados como  Adriano Barbosa de Moura, 32 anos, Alessandra Gomes Duarte, 18 anos, Ana Paula Jucá Ribeiro, Luiz Henrique Silva dos Santos, 19 anos, Maurício Mardrey Teixeira de Carvalho Silva, 21 anos, Rafael Barbosa da Silva, 19 anos, Romário Silva de Macedo, 20 anos e Rubson Rafael Silva de Oliveira, 25 anos. Todos são integrantes da TMV – boa parte é da diretoria e vestiam a camisa da torcida no momento da prisão. Eles foram autuados por formação de quadrilha, porte ilegal de armas e uso de armas restritas. A delegada terá 30 dias para o concluir o inquérito.

 

Na ação, polícia encontra armas, munições e drogas

 

Além de Victor Vinícius e Fhewchtersmuller Júnior, suspeitos diretos do assassinato do jovem torcedor Flávio Augusto da Costa Leandro, em novembro passado, ainda há outros oito detidos. Cinco deles foram presos em flagrante, numa residência na Rua das Andorinhas, no Conjunto Cidade Satélite, na zona Sul de Natal.

 

A maioria dos jovens estava reunida, dormindo, após um jogo da noite anterior entre Baraúnas e América, pelo Campeonato Estadual, ocorrido no Estádio Nogueirão, às 20h30, em Mossoró. “Eles vinham de um jogo em Mossoró, e para nossa sorte, ficaram na mesma casa”, enfatizou a delegada Alzira Veiga, responsável pelas investigações.

 

Armas e munições possivelmente utilizadas durante o assassinato de Flávio Augusto foram encontradas. A polícia encontrou duas pistolas, sendo uma 380 – a mesma arma utilizada para matar o rapaz. Esta passará por uma perícia para confirmar se foi a arma do crime. Todos os presos foram autuados por formação de quadrilha, porte ilegal de armas e uso de armas restritas, visto que a outra pistola era uma 9 milímetros – uso exclusivo das forças armadas.

 

No decorrer na operação, foram presos Adriano Barbosa, ele possuía um mandado de prisão e era envolvido com venda e troca de armas de fogo em Mãe Luiza, na zona Leste. A polícia investiga também se a arma utilizada no atentado contra Flávio foi fornecida por ele. Romário Silva é apontado como autor de pelo menos três homicídios também no bairro litorâneo da cidade.

 

Ana Paula tem envolvimento com tráfico de drogas, segundo a informação repassada pela delegada Alzira Veiga. Na residência dela, localizada num condomínio em Neópolis – próximo a onde Flávio Augusto foi executado – foram apreendidas uma pequena quantidade de drogas. O local seria um ponto de encontro para a TMV, segundo a delegada.

 

Bate-papo - JOSÉ AUGUSTO PERES

Promotor de justiça

 

É feita alguma espécie de identificação para integrantes de torcidas organizadas aqui no Estado?

Sim. As torcidas organizadas tem a obrigação de realizar um cadastro, e ele deve ser atualizado a cada seis meses. A GARRA [torcida do ABC], por exemplo, tem o cadastro até 2 de março. A TMV termina seu prazo agora no dia 18.

 

E o que ocorre se o cadastro não for atualizado?

Se não for atualizado o cadastro, o torcedor fica impossibilitado de entrar no estádio.

 

O MP pede a elucidação rápida de crimes por parte da Polícia Civil?

Antes, esses crimes eram tratados como crimes comuns. As 14 mortes que registramos em 2013 como supostamente envolvendo rixas entre torcidas, eram tratadas como crimes isolados. Mas entendemos que devemos tratar como crimes integrados, e agora fazemos um trabalho com a ajuda da própria Polícia Civil e do Conselho Estadual de Direitos Humanos, a fim de buscar ligações entre os crimes.

 

O caso investigado pela 10ª DP pode ajudar esse trabalho?

A partir desse momento, vamos evoluir nas investigações. Isso porque os presos podem ser identificados como autores de outros crimes ou eles podem apontar envolvidos. Foi um passo importante.

 

O fim das torcidas é a solução para o fim da violência no esporte?

Não. Com a extinção das torcidas organizadas não quer dizer o fim da violência porque acabamos com uma organização, mas não com as pessoas que a integram.

 

A Fifa faz alguma recomendação quanto a torcidas organizadas?

Não.

 

 


Fonte: Tribuna do Norte