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Obra do novo Arquivo Público do RN gera insatisfação na Polícia Civil e Adepol anuncia protesto

"A Polícia Civil está em coma e o Estado em vez de salvá-la fará uma cirurgia plástica". Dita por qualquer profissional da segurança pública do Rio Grande do Norte, a frase soa forte. Mas proferida por uma delegada de Santana do Matos, cidade localizada a 200 quilômetros de Natal, ganha relevo. Taís Aires Telino virou delegada há um ano e era uma das participantes da reunião realizada na manhã desta segunda-feira (15), na Associação dos Delegados de Polícia Civil do Rio Grande do Norte (Adepol), em Mãe Luiza, para definir os rumos do protesto da categoria contra a notícia de que o terreno onde ficam três órgãos da instituição, inclusive a Delegacia Geral (Degepol), será transformado no novo Arquivo Público do Estado. Enquanto os números da violência se multiplicam feito uma metástase, os R$ 30 milhões anunciados para o prédio que abrigará documentos históricos, dados institucionais e processos judiciais geraram críticas e apontamento de desvio de prioridades.

 

O montante sairá dos cofres públicos do Estado, o que deixou representantes da Polícia Civil indignados. Na área da Degepol, onde funciona o atual Arquivo Público, também existe a Academia de Polícia (Acadepol), a Delegacia Especializada em Capturas (Decap) e um laboratório da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn). O novo projeto pretende trazer o Arquivo para a parte da frente do terreno e deixar apenas uma pequena construção para a Degepol. A obra será conduzida pela Secretaria Estadual de Infraestrutura (SIN). Para os delegados, a readaptação é importante, mas inviabiliza a ideia de fazer do espaço uma central completa da Polícia Civil do Estado e demonstra que a criminalidade latente é negligenciada por governantes. Para a delegada Ana Cláudia Saraiva Gomes, presidente da Associação dos Delegados de Polícia Civil, "a população vai se indignar".

 

A comparação que ela faz com os investimentos do Governo do Estado na estrutura policial aumenta a revolta, que promete estourar na próxima quinta-feira (18) com um ato na rua para mostrar a realidade aos cidadãos. "Como todos sabem, nossa condição de trabalho está comprometida. São delegacias deterioradas, algumas até com risco para os policiais, como está a 7ª DP [nas Quintas]. Aí dos R$ 8,7 milhões previstos no orçamento aprovado para este ano, para investimentos em compra de equipamentos e reformas na estrutura física, R$ 2,192 milhões foram contingenciados, ou seja, dinheiro não repassado, e R$ 4 milhões foram simplesmente cortados. Sobrou menos de dois milhões. Então saber que o Governo investirá R$ 30 milhões em um arquivo morto, em plena era digital, mostra que isso não tem lógica".

 

Assassinatos em escala industrial, apreensão de drogas e o registro de furtos e roubos deixaram o Rio Grande do Norte, outrora uma das mais tranqüilas unidades da Federação, com destaque no mapa da violência nacional. Um dos emblemas da realidade sombria é a segunda maior aglomeração urbana potiguar, Mossoró. À frente da 2ª DP na Capital do Oeste, o delegado Nivaldo Floripes é responsável por um total de 150 mil habitantes, com a inclusão de Serra do Mel. Para tanto, dois agentes, nenhum escrivão e incontáveis crimes causam a sensação de impotência, segundo afirma. Flagrantes são concluídos sem ter onde deixar presos. Com apenas duas delegacias distritais e seis especializadas, os 107 homicídios registrados até o final do mês passado são o retrato da falta de política de segurança pública.

 

"É simplesmente caótico. Vivemos situações absurdas, como irmos para operações sem diárias, na base do improviso entre delegados de cidades vizinhas", lamenta Nivaldo. É a mesma cena observada por Taís Aires em Santana do Matos. Ela também responde por Bodó e São Rafael com apenas dois agentes, sem escrivão, com dois computadores velhos e com a delegacia improvisada em uma casa reformada pela prefeitura municipal. Sua fala é recheada de vergonha, falta de atenção e incertezas na hora de trabalhar. "Outro dia, fiquei 24 horas com um preso porque não sabia onde colocá-lo. Isso sem contar que eu mesma sou a escrivã e agente, quando precisamos de um contingente maior. Mesmo sendo cidades tranqüilas, acontecem crimes. E com dois agentes, fica difícil. Se eu fosse esperar pelo Governo, estaria aqui de braços cruzados".

 

Ainda na primeira metade da manhã desta segunda-feira (15), a reportagem tentou contato com o secretário estadual de Administração, Albert Nóbrega, titular da pasta que conduz o Arquivo Público. Em torno das 9h30, ele atendeu e informou que estava em reunião. Pediu que a ligação fosse retornada em 30 minutos. Desde então, novas chamadas e uma mensagem com o conteúdo da conversa não foram respondidas.

 

 

 

Por: Conrado Carlos
Foto: Wellington Rocha
Fonte: Portal JH